domingo, 3 de fevereiro de 2013

LINCOLN



Lincoln. Daniel Day Lewis. São indivisíveis e indivíduos. O ator foi capaz recriar o personagem histórico, de forma orgânica tal, que não consegui distingui-lo daquela persona - elaborada de forma impecável e representada melhor ainda.

Longe de ser um aspecto único, que refira-se apenas ao desempenho do ator protagonista da história, a sua atuação caracteriza-se por catalisar os demais elementos da cena para si. O nome da obra, de qualquer forma, já pressupõe essa função ao personagem; mas depois de ver o filme, não posso dizer que outro ator poderia fazê-lo - repito, ele recriou o homem Lincoln. Embora a composição do personagem tenha claramente se calcado emblematicamente em todos aqueles atributos morais, religiosos e políticos que são referidos histórica e psicologicamente à figura de Lincoln, a atuação do ator é essencial.

A perfeita correlação entre o rico argumento, o roteiro e a narrativa de um período histórico que ficou marcado por um acontecimento que resultou em um trauma nacional profundo, a Guerra de Secessão, recalcado sob o manto da vitória da democracia, traduziram-se em um excelente filme, que longe de exaltar o papel e a figura de Lincoln, contextualiza-o.

O enraizamento e a profundidade dos valores que, ainda hoje, demarcam atavicamente o núcleo moral do povo ou nação dos Estados Unidos da América, como o pragmatismo que permeia o conceito de democracia - aliás, muito peculiar, embora funcional; a onipresença colateral da guerra como solução e o radicalismo puritano, caracterizado por uma ética protestante fundamentalmente interrelacionada a uma teoria messiânica do fim do mundo, são o pano de fundo histórico e material de um mundo em processo de eclosão do modo de produção capitalista.

Este é substrato no qual a discussão sobre a escravidão é colocada no filme.

E é sintomática a morte do personagem. Consequência inelutável de uma sociedade que cultiva o absoluto poder do indivíduo ... antes mesmo do cidadão ... o indivíduo é o caráter da imanência dos Estados Unidos da América, e ele precede até mesmo a Deus - talvez isto explique quantos presidentes assassinados em uma das primeiras nações republicanas.

Resta aqui, dar os parabéns a Spielberg e nos render ao magnífico Daniel Day Lewis.

Por A.H.Garcia

   

Nenhum comentário: