quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

LOS ABRAZOS ROTOS

Um bom Almodóvar. Isto é, com o repertório de elementos psicológicos e iconográficos do autor – e seu alterego na figura do protagonista -, e sua agonia existencial.

Seus filmes tem um pathos que pouco ou quase nada se altera observando-se sua trajetória, configurando-se uma verdadeira essência da obra. O desejo como uma força amoral, indomesticável, que traz à tona nossas maiores abjeções e perversões.

Em torno disso, suas narrativas se desenrolam magistralmente misturando climas e atmosferas, do filme noir ao drama e à comédia, mas todos impregnados da sua verve e do magnetismo dos seus personagens, seres viscerais que se livram de suas amarras de forma inescrupulosa e passional, revolvendo o próprio substrato psicanalítico que permeia a obra do autor.

A estória desse filme tem muito da atmosfera dos clássicos hollywoodianos. Diferentemente da fórmula daqueles filmes, o mistério ou pathos da obra não é tratado com as limitações morais que sociedade americana estabelece. Ao contrário, o mistério em Almodóvar é destravado – as contradições da sociedade civilizada têm suas seqüelas completamente expostas.

Uma trama na qual há todos os ingredientes de um película noir: o poder do dinheiro e dos interesses que giram em torno dele; sexualidade à flor da pele, como bom filme espanhol; a enigmática personalidade do narrador, nesse “ato” representada pela cegueira que o acompanha; finalmente, a catarse essa filha do drama.

Enfim, outra obra de Almodóvar.

Por A.H. Garcia