quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CAPITÃO AMÉRICA

Capitão AméricaFui ver "Homem Aranha", e ficou aquele gostinho nostálgico - nostalgia contudo, não da época - de quando via os episódios em desenho animado e aquilo me bastava. Existem aqueles tipos de aficcionados cujo ícone tem uma significação estética - uma certa arquitetura existencial, com a qual ele se identifica. Penso que sou um desses, ou melhor, fui um desses ... até ter uma percepção mais crítica desses tipos, heróis - o sujeito solitário, incompreendido, à margem dos códigos sociais, que tem valores próprios que o impulsionam a agir moralmente, construindo uma conecção muito particular e simbólica com o mundo, o protótipo do colonizador puritano do novo mundo.

Acho que o Homem Aranha foi o herói mais acabado dos quadrinhos e da tv, por ser o mais próximo do ser humano ... e possuir uma complexidade urbana com a qual me identifiquei naturalmente.

Assisti também aos dois filmes do "Homem de Ferro". Filmes definitivamente com conteúdos ideológicos evidentes ... embora, tenham se mantido fiel ao espírito "guerra fria" da época. Tecnologia e Poder são o binômio sobre o qual se assentam os filmes, e a nova forma do capitalismo americano. Alcança-se um limite exponencial: até que ponto vai o poder do indivíduo, sob a retórica proposta pelo próprio herói de exercer seu poder em nome do estado.


Qual o significado disso: chegou-se ao nirvana liberal do cidadão-estado ou à culminância de visão totalitária ... me parece que questão deste paradoxo é um velho dilema recorrente da esquizofrenia coletiva da sociedade americana puritana: como em "O médico e o monstro", de R.L. Stevenson, embora este faça uma investigação sobre a natureza humana, ele indaga qual o limite do homem para o bem ou para o mal, duas categorias fundamentais e extremamente totalitárias de se representar a natureza humana.

Recentemente assisti "Capitão América". Na época em que se passava o desenho, nos idos dos anos 60/70, o mais emblemático dos agora "super-heróis" ... ele carregava todo o peso da guerra fria, sofria de delírios, pesadelos, tinha um comportamento esquivo ... parecia dizer, não se meta com isso, ou, às vezes temos que fazer coisas muito graves ... A denominação "Capitão América" se aplicou como uma luva a este "agente-reagente", que representava o sacrifício puritano, a negação de si mesmo em nome do status quo e da ordem universal etc.

O Capitão América do filme é bem mais light ... reflete a fragilidade contemporânea do império americano, e procura talvez uma explicação para si mesmo, no mundo atual.

A última cena do filme traduz isso.

Por A.H.Garcia   

sábado, 6 de agosto de 2011

"Em terra de cego ... e O homem que queria ser rei"

michael-caine-and-sean-connery

Conto de H.G.Wells homônimo, se lhe referenciarmos o dito popular, sabiamente conotando situações em que grassam a ignorancia e a mediocridade, de forma impositiva, que degeneram para uma impostura geral. É dessas narrativas que exploram com singular profundidade aspectos da sociedade humana, que rebatem na dualidade temporalidade-atemporalidade, criando uma ficção que mais tarde precursora do gênero Ficção Científica, propõe situações inusitadas e talvez fantásticas até ...

Essa ponderabilidade - talvez - decorre da linguagem povoada de uma racionalidade ao mesmo tempo cartesiana e peculiar, que invoca o improvável com uma maestria absurda ... herdeira de Locke e Kant, projetando o mundo das coisas para o desconhecido e dentro dele próprio, com suas fantasmagorias desmitificadoras ...

" Em Terra de Cego Quem Tem Um Olho é Rei" é uma magistral história, que faz parte coletânea organizada por Ítalo Calvino sobre Contos Fantásticos do Século XIX, que recria a humanidade representada numa hipotética sociedade de indvíduos cegos que, não por caso, vive isolada em si mesma, com códigos de conduta que só se aplicam ao seu mundo - primado pela falta de visionaridade ...

Traço um paralelo aqui com o filme "O Homem Que Queria Ser Rei", com os grandes Michael Caine e Sean Connery, cujos personagens - dois exploradores ingleses - que empreendem uma viagem ali pelo que hoje poderia ser a região do Paquistão, India ou Nepal,  para criar seu próprio império pessoal, nos mesmos moldes da política colonialista de superexploração e acumulação material.

Um grande filme portanto, para assistir.


Por A.H.Garcia