domingo, 17 de julho de 2011

Comentários da Madrugada

Assisti a 03 filmes interessantes, ou potencialmente interessantes, aproveitando a abertura inesperada dos canais Telecine. As noites deveriam ser preenchidas com bons filmes e uma boa literatura - esta acompanhada sempre de uma agradável brisa tropical.

Confesso que estava meio eufórico com as opções inusitadas, pois meu pacote não inclui os canais especializados em filmes ... cansei de ver repetições ... entretanto, fiquei, como chamamos no tênis, no "mata-burro", pois os pacotes com canais de filmes encarecem demais o preço da assinatura; esta sem os canais de filmes ficam caras demais, para o que oferecem. É a manipulação do mercado oligopolizado.

Voltando aos filmes, dos três o que assisti por mais tempo foi um uma produção inglesa. O título (em português), RESGATE DE ÓRGÃOS. Com Jude Law, Alice Braga, Liv Schreiber e Forrest Whitaker. Elenco interessante, argumento instigante e produção nos padrões dos financiamentos independentes.

Num futuro já presente , o mote do filme é a denúncia do que já ocorre contemporâneamente - o tráfico de órgãos. Se fizermos um paralelo com o filme de Fernando Meirelles, O Jardineiro Fiel, que expõe a utilização de cobaias humanas na África, por grandes corporações da indústria química, verifica-se que estes são temas que - embora malditos, - começam a despertar a opinião pública das sociedades mais informadas. Não sei se por alguma coincidência, ambas as produções são inglesas - o iluminismo inglês ? -, e contam em seus quadros com profissionais brasileiros, como o próprio Meireles e a atriz Alice Braga.

Londres com sua fria atmosfera, seu caldeirão de culturas e último bastião do capitalismo neoliberal (herança da dama de ferro), por outro lado, é um cenário propício aos questionamentos dos grandes paradoxos que acompanham o capitalismo desde a Revolução Industrial. E a mercantilização de órgãos seria o paroxismo de tais contradições.

O argumento é o de que o transplante de órgãos virou mais um segmento mercadológico das economias capitalistas. Entretanto, o gozo do benefício desses órgãos requer uma relação de vassalagem, e aqueles que não pagam seu quinhão são suprimidos pelos resgatadores de órgãos ... relação apantemente vinculada a um mero descumprimento de uma obrigação contratual. A mercantilização ( ou controle) do indivíduo evolui ou se descola para uma mercatilização da vida.

É a última etapa para artificialização da vida. Uma tese que tem muitos antecessores na própria Inglaterra, como Aldous Huxlei ( Admirável Mundo Novo e Paradoxus ) e George Orwel ( 1984 ). E o próprio Foucault, e as instituições de controle e segregação do indivíduo, como artefatos estruturais.

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Zapiei ... e achei outro filme algo interessante: INFORMERS. Assisti os últimos minutos  e a canção final com os créditos - esta sempre agrada, como uma harmonia subliminar que compacta tudo na nossa memória.

Quanto ao filme, lembrou- me daquele último do diretor Robert Altman. Tendo Los Angeles como pano de fundo, tenta mostrar de forma simultânea os diversos conflitos que mediam as relações humanas em uma sociedade multifacetada, como são as das grandes metrópoles. O final é poético mas um tanto mórbido: parece um rito de morte solitária de uma linda mulher,  em Malibu ...

O elenco é grande e formado por atores subestimados pelo mainstream, como Winona Rider, Mickey Rourke, Kim Basinger e outros ... e  há uma dedicatória no final para um jovem ator morto por overdose, chamado Brad Renfro, antes dos créditos, sintetizando o significado do filme e seu significante: a marginalização.

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Ao final, outro filme: A EDUCAÇÃO DE CHARLIE (em português), com Jesse Eisenberg - ator que
gosto, não por FACEBOOK, mas por outros filmes. Esse é um deles. Eisenberg em geral fez papeis que sedimentaram um tipo que encarna ideais românticos ... e quem não gosta de um ator que faz isso com um ar quase angelical e uma certa dose de intelecto.

Esse filme é mais uma daqueles, o ar ingênuo e moralista do personagem parece estar gestando o astro de FACEBOOK. 


Por A.H.Garcia

terça-feira, 12 de julho de 2011

CINEMA POLÍTICO ITALIANO

A Classe Operária vai ao Paraíso (1971), Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita (1970) e Giordano Bruno (1973).

Trilogia do Diretor Elio Petri e do ator Gian Maria Volanté, sobre o cotidiano e a história italiana sob o foco político, isto é, como se engendram e clivam as relações sociais e as relações de poder, sob diversos pontos de vista.

A Classe Operária ... por exemplo, fala do cotidiano de Lulu, um operário industrial. Refletindo sobre a alienação e o engajamento político, e, como as condições materiais interferem na vida individual. O paraíso poderia ser a própria consciência de classe, ou na linguagem atual de grupo social.

Investigação sobre um Cidadão ... é uma reflexão sobre a significação do poder como instrumento repressor e o corporativismo policial como lógica de manutenção do status quo.

Já Giordano .... baseia-se no caso verídico da execução do filósofo italiano Giordano Bruno pela inquisição.

Em tempos de Césare Battisti, é uma boa pedida para se tentar compreender o cenário político italiano dos últimos 40 anos.

Por A.H.Garcia