terça-feira, 28 de julho de 2009

Inimigos Públicos

Um filme brilhante e correto. Brilhante porque seu minimalismo no tratamento dos eventos, na composição dos personagens, dá-lhes alma – indivíduos de carne e osso considerados contaminadores das instituições sociais e dos pilares do sistema, em um momento de afirmação do estado sobre os entes federados, e suas idiossincrasias coletivas. Chega a ser portanto, um filme histórico, pelo pano de fundo que se assoma de forma concreta, mas natural. Qual a relação deste mito com a afirmação do capitalismo selvagem nos Estados Unidos ?

O elenco excelente, mesclando nomes de peso com atores desconhecidos, em que pontua sem nenhuma dúvida a fenomenológica presença Johnny Depp, representando de forma magistral o papel de John Dillinger, indivíduo proscrito pelos sistemas de controle social, que encarna através do crime a subversão dos valores mais prezados pela vertente econômica da puritana sociedade americana.

O diretor Michael Mann conseguiu compor um universo extremamente intimista, e uma direção discreta e correta, sem valorizar excessivamente as cenas de impacto. Entretanto, outro grande mérito na concepção desse filme, é a direção de arte – a reconstrução da época foi perfeita, a ponto de não ser um elemento destacado mas um elemento a ser destacado.

Uma trilha sonora para não se esquecer, com Lady Day flutuando como uma deusa do apocalipse. A atmosfera passa longe do gênero noir tradicional, embora beba das suas fontes mais fundamentais – o amoralismo e o marginalismo.

O final, rápido e capital. Sem nenhuma concessão melodramática - o evento final coroa a trajetória conturbada de Jonh Dillinger.

Por A.H. Garcia

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Trama Internacional

O título remete logo a uma película de Hitchcock. Entretanto, pouco em comum tem com esse filme – talvez, ser protagonizado por uma dupla formada por um homem e uma mulher. Uma coincidência que pode significar a condição humana do indivíduo e ao mesmo tempo a sua transcendência pela superação das diferenças aparentes – aparentes enquanto diferentes. No filme de Hitchcock, a narrativa é notadamente catalisada por uma atmosfera conspiratória que se sobrepõe impessoalmente sobre os personagens. Enquanto, neste filme a globalização com sua marca ultra-capitalista, e seu rolo compressor, dão o tom hiperbólico que movimenta a trama.

O argumento do filme embora nos atinja apenas perifericamente e não faça parte de nosso cotidiano –, constituindo-se num formato esquemático sobre o poder das grandes corporações financeiras e as relações destas com interesses políticos em países do “ terceiro mundo ”, ou seja a velha forma de controle sobre suas riquezas revestindo-se em nova fórmula de exploração e acumulação, o neo-colonialismo -, apresenta um panorama verossímil e equilibra bem para os padrões atuais a abordagem do tema, a ação e o contexto globalizante da história, através do recurso de centrar a trama em uma esfera estrita - das relações subterrâneas entre a lavagem de dinheiro e instabilização política em países pobres.

Os filmes protagonizados por Clive Owen sempre têm esse apelo de crítica ao sistema, algo que ele incorpora muito bem – talvez, pela verdade que passa nas suas expressões, talvez seja ele um legítimo representante da remissão da secular culpa inglesa em suas ações ao redor do mundo, durante boa parte da história moderna.

As locações quase sempre em locais públicos, alternando planos mais fechados e planos abertos, compõem bem a atmosfera proposta para o filme, e reporta à infiltração das grandes corporações no aparelho de estado, embora o filme seja totalmente despido das teses políticas que dominaram as últimas décadas, mais precisamente a ideologia da “Guerra Fria”.

É um bom filme de ação, com bons recursos dramáticos e uma interessante leitura da relação entre a globalização e o contexto geopolítico contemporâneo.