sábado, 12 de setembro de 2015

BLADE RUNNER - Caçador de Androides





Filme de 1982, que se transformou em dos poucos clássicos dos últimos 30 ou 40 anos. Paris,Texas, de Wenders, também adquiriu esse status, por motivos diversos porém com o mesmo argumento. Repetição e diferença, intensividade.  A perspectiva de fim de século - com contornos proféticos, do fim do mundo -, nutrida por fenômenos culturais e políticos (iminente queda do muro de Berlim e fim da União Soviética), produziram um ambiente mimético definido como "o fim da história" - numa clara alusão à doutrina marxista materialista -, marcado pela dissolução das ideologias - melhor dizendo, da utopia de uma sociedade igualitária representada pelo pensamento da esquerda - e "superação" das contradições que permeavam a economia política capitalista. Como vemos nos dias de hoje -, as contradições longe de serem superadas, deslocaram seu eixo para novos nichos - ou melhor, novas formas de exploração e uma "nova" geografia da correlação exploração-acumulação. Não foi o fim ... Mas, o começo - e, como diz nosso "livro dos livros", "no início era o caos". Afirmou-se então uma nova categoria de interesses, de cujas motivações os valores humanísticos e as utopias eram anátemas.

Desculpem a digressão, mas esse contexto cultural de final de século - que se engendrou do contexto econômico e geo-político da época - foi cunhado ou rotulado sob o termo "pós-modernismo", que representava uma ruptura com a ideologia e o pensamento vinculados à oposição marxismo-capitalismo.

Uma obra de arte pós-modernista. Sem dúvida, o filme esteticamente reflete este conceito. Mas, como toda obra de arte, o extrapola, e recoloca a questão existencial, por mais que retrate um mundo composto de homens e androides ... Em tese, seria uma forma de se suprimir a "mais valia", justificando moralmente as relações econômicas capitalistas, pois não existem explorados.  Por outro lado, se criou uma nova forma de exploração e de reificação, gênese de um novo sistema ético - os androides dão uma uma aula de humanidade e de respeito pela condição humana, se tornando mais humanos que os humanos - talvez, demasiadamente humanos, como diria Nietsche.

Um filme que leva ao limite conceitos estéticos de uma época, e se afirma como limiar de outra ... a gênese da era digital, da comunicação cibernética compõem um substrato tecnológico que lhe perpassa, sínteses de cepa marxista ... obra baseada em livro de Philip K. Dick, autor que mistura experiências metafísicas e universo cyber ... elementos de um devir que logo veio a se afirmar, numa espécie de revolução digital que foi acompanhada de uma nova concepção das relações sociais e uma releitura do papel de suas instituições.

Em paralelo, adquiriu a conotação de cult-movie, graças à sua fotografia e cenografia, inspiradas textualmente pela cidade de Tóquio - sobressaindo-se para mim, a chuva, que nunca para, e cria uma atmosfera muito peculiar -, sua arquitetura e luminosos - um ícone pop, sem dúvida. Assim como a trilha sonora de Vangelis, uma obra à parte.

Foi uma felicidade assistir novamente o filme, e compará-lo com a experiência anterior.


Por A.H.Garcia