segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Cinema Brasileiro

O cinema nacional. Esse grande enigma, fruto muito mais de improvisos do que de processos, ou do processo indústria – cultura. Nunca se compreendeu muito bem no Brasil o papel de um e de outro. Tivemos nossos promissores momentos com as chanchadas e a Vera Cruz, e sua tentativa de criar um pólo cinematográfico de excelência – entretanto, em um país míope para o papel do cinema como linguagem e forma de construção lingüística, houve, creio, uma regressão dessa indústria cultural decorrente de sua incapacidade de afirmação como segmento independente.

Pós-tudo, Cinema Novo. Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão ... e o cinema se conformou a ser um artefato alegórico, produzido de forma improvisada. Esse conceito foi extremamente prejudicial quanto a se estabelecer um padrão de qualidade mínimo. Apostamos no imediato como conceito de produção, com todos os efeitos decorrentes de tal opção. Produzimos muito do mesmo, e algumas coisas com potencial para serem boas.

Com toda certeza, a ditadura provocou uma subnutrição dos temas e dos meios de produção do segmento cinematográfico, que o diga o nefasto Amaral Neto.

O contexto atual guarda forte resquício do anterior, quanto ao monopólio da produção e distribuição ... A própria extinção da Embrafilme, de certa forma contirubuiu para isso. Cinema com cara de mini-série e de novela. Os atores são os mesmos, e o conceito sobretudo, é aquele. De forma geral, a televisão não é, como não foi antes, aqui, um elemento propulsor dessa indústria cultural – comprova isto, o fato de que sua fase mais prolífica foi justamente sob a ditadura ou ainda sob seus efeitos. Isto se deveu em parte à era do rádio que forjou um quadro de redatores e autores ímpar, em parte pela supressão de outras formas de linguagem e expressão mais livres. De certa forma a televisão, no Brasil, substituiu o cinema. Talvez, decorra daí a panacéia de um formato e um padrão estético similar.

Nossa produção entretanto é medíocre, se levarmos em conta os roteiros fraquíssimos, a falta de contundência e aprofundamento no tratamento dos temas. E o pior, filmes com um certo tom programático – clones de Amaral Neto?

Embora já existam produções independentes pelo país afora, muita coisa ainda está por fazer. Temos que criar uma cultura cinematográfica desatrelada da televisiva, com uma estética própria. Uma indústria tecnologicamente aparelhada, com quadros com formação técnica específica, incluindo-se aí uma ênfase no desenvolvimento de roteiros.

Por Antonio Henrique Garcia