quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

LOS ABRAZOS ROTOS

Um bom Almodóvar. Isto é, com o repertório de elementos psicológicos e iconográficos do autor – e seu alterego na figura do protagonista -, e sua agonia existencial.

Seus filmes tem um pathos que pouco ou quase nada se altera observando-se sua trajetória, configurando-se uma verdadeira essência da obra. O desejo como uma força amoral, indomesticável, que traz à tona nossas maiores abjeções e perversões.

Em torno disso, suas narrativas se desenrolam magistralmente misturando climas e atmosferas, do filme noir ao drama e à comédia, mas todos impregnados da sua verve e do magnetismo dos seus personagens, seres viscerais que se livram de suas amarras de forma inescrupulosa e passional, revolvendo o próprio substrato psicanalítico que permeia a obra do autor.

A estória desse filme tem muito da atmosfera dos clássicos hollywoodianos. Diferentemente da fórmula daqueles filmes, o mistério ou pathos da obra não é tratado com as limitações morais que sociedade americana estabelece. Ao contrário, o mistério em Almodóvar é destravado – as contradições da sociedade civilizada têm suas seqüelas completamente expostas.

Uma trama na qual há todos os ingredientes de um película noir: o poder do dinheiro e dos interesses que giram em torno dele; sexualidade à flor da pele, como bom filme espanhol; a enigmática personalidade do narrador, nesse “ato” representada pela cegueira que o acompanha; finalmente, a catarse essa filha do drama.

Enfim, outra obra de Almodóvar.

Por A.H. Garcia

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PLUTOCRACIA x DEMOCRACIA

Esse é o resumo da ópera. O resto são efeitos especiais muito bem feitos e também muito previsíveis. E uma trilha grandiloquente para completar a atmosfera catastrófica – que tem o efeito colateral de acentuar o tom patético dos romances que sempre temperam esse tipo de filme. Afinal nem só de catástrofes vive hollywood.

Duas coisas se destacam como objeto de reflexão sobre o tema do filme. A compulsão nacional dos Estados Unidos sobre a questão do fim dos tempos – isto tem início desde a colonização, com o cerne do fundamentalismo abrigado nos porões do Mayflower e que perdura até os nossos dias, nas mentes e nas engrenagens produtivas da indústria americana, vide a corrida aeroespacial, nuclear, bélica etc – perigosamente extravasadas pelos fanáticos de plantão ...

Outro ponto bastante interessante. O problema central do mundo inteiro, mas mais dramático ainda para o bastião do Laissez Faire, o dilema Plutocracia x Democracia -, melhor, a questão moral -, afinal o mundo é governado pelo dinheiro e este compra tudo até a vida: claro que sim. Isto tem a haver com a mercantilização do trabalho, com a deificação do capital etc ... aliás traços atualmente muito mais evidentes em países emergentes e periféricos.

A ironia do filme é que seu argumento científico é o de que o núcleo da terra está sendo cozinhado por microondas emitidas por explosões solares, que faz com que se altere toda sua superfície e se desloque seus pólos magnéticos. Os pólos Sul e Norte, mudam de lugar – não deixa de ser uma teoria interessante.

Quantos aos atores, para quem valoriza sua presença, realmente dão alguma densidade e peso ao filme. Jonh Cusack, Danny Glover e a deliciosa Amanda Peet melhoram as coisas.

Por Antonio Henrique Garcia

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Os Vigaristas

Antes de assistir ao filme tinha lido um texto no jornal “ A Tarde ”, que o crítico concluía dizendo em relação à narrativa, que, apesar da parte final ter sido mais movimentada – ou algo que o valha – o filme havia sido comprometido pela direção arrastada no seu miolo – ou algo que o valha.

Isto já seria uma análise superficial até para o pior filme ... Entretanto, estamos falando de um grande filme – que provavelmente seria rotulado de cult até algum tempo atrás -, que de arrastado não tem nada, senão uma feliz e profícua alusão ao Ulisses de Joyce. Por isso, o miolo que o in-feliz crítico chama de arrastado é um texto prenhe de significações, com uma narração e ritmo que beiram quase à literatura, e a ambigüidade que permeia todas as evocações do narrador – que, como no livro, pode se discutir se é o niilismo da obra ou a característica existencial do personagem, esperança de um ou cinismo do outro – remete de forma imediata e latente à subversão como uma forma de reação aos dogmas e às convenções do senso comum.

Mas, mesmo essa seria uma das muitas leituras de Ulysses. As suas experiências com as palavras, criam novas possibilidades mundanas, algo próximo às imagens do surrealismo. E é aí o ponto de congruência entre livro e filme, o que o in-feliz crítico chama de arrastado é a profusão simbiótica de imagens e palavras que viajam no tempo – presente e passado.

Os nomes dos protagonistas, Stephen e Bloom, não deixa de ser mais uma alusão ao livro. Bem como a paisagem européia, descortinada por Joyce em seu périplo e no dos personagens, que transitam por lugares quase que por algum desígnio astral, mitológico do grande viajante. E enfrentam desafios da mesma ordem, que são a essência da civilização ocidental.

Enfim, não é um filme estrito. É muito mais. É navegar mediterraneamente por desvãos e cavernas imaginárias. E é isto que os personagens fazem magnificamente pelas mãos do diretor, que não me ocorre o nome.

Por Antonio Henrique Garcia

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

Melhor filme de Tarantino. Ele é um dos poucos cineastas hoje em dia reconhecido por uma Direção Autoral. É claro que se falar de Produção, Direção, Roteiro, Montagem em um processo industrial como o que é atualmente a produção de filmes, não é a mesma coisa de décadas atrás, onde a mão do realizador interferia em todo o processo de criação do filme. Entretanto, isto posto, o gênio de Tarantino sobressaí-se ... seja pela sua extravagância, virulência, banalização etc, seja pelo seu estilo personalíssimo, calcado em vasta e variada iconografia, no qual pontua sua veia Expressionista no tratamento estético que dá aos filmes.

Dito isto, é que consideramos ser este o seu melhor filme.

A narrativa é dividida em partes que se entrelaçam intrínsecamente formando um todo orgânico ... É incrível que mesmo um texto que lida com o absurdo, o onírico e o farsesco, possua atributos de um realismo impressionante. Aí, entra a marca do diretor: sua virulência e contundência parecem ter ganhado novos contornos – se tornaram tão instintivas quanto inteligentes –, a elas somaram-se o perfeito enquadramento dos atores, diálogos cortantes, rápidos e pontuados por um non sense absoluto, e o argumento explorando a grandiloquente e caricata retórica nazista, de tal forma que poderiam ser comparados a uma sinfonia Wagneriana.

A direção de arte e cênica também excelentes. Cenários e planos abertos em proporções precisas.

A utilização, em grande parte, de atores locais, deu mais densidade dramática aos acontecimentos do filme. Brad Pitt deu um show como o rastejante e infame caçador de cabeças nazistas, compondo-o com a cara do Poderoso Chefão e sagacidade do homem sulista dos Estados Unidos.

O final catártico mereceu palmas. Pelo menos da platéia em que me encontrava.

Por Antonio Henrique Garcia

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Tá chovendo Hamburguer

Desenho Animado com um argumento sui generis. Pequeno inventor munido de todo aquele arsenal da moral puritano-messiânica americana, cujo indivíduo é o principal ator de uma sociedade e cujo destino é sempre vencer. Só que essa conta não fecha.

A narrativa se vista como uma crítica aos hábitos alimentares daquela sociedade e, de resto, de todo o mundo, é interessante pela abordagem escatológica de que se utiliza, com uma metáfora do que acontece com o planeta – entretanto, com uma elaboração temática extremamente dirigida, generalista e polarizada, do centro para periferia – sibilando aos nossos encantados ouvidos a categoria central do hemisfério norte.

A velha parábola dos nossos co-irmãos lá de cima, do indivíduo que quer provar seu valor -, leia-se sua tese -, e não mede as conseqüências para conseguir fazê-lo, e depois reconhece seu erro, consertando-o em seguida, é um velho clichê que na prática já causou muitos problemas em quase todas as latitudes mundiais.

A ingenuidade é um meio super-fluido que se insinua de forma simplista e simpática aos olhos, entretanto o que parece uma decupação pelos erros, consiste em isolá-los em seu aspecto mais superficial – e lúdico – e reafirmá-los linguisticamente, utilizando-se de uma simples inversão mecânica e maniqueísta, na retórica da história. Fomos e voltamos, e afinal ficamos no mesmo ponto, e as mesmas aspirações ...

Minha filha gostou muito do filme ... eu também...

Por Antonio Henrique Garcia

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Eles não usam Black Tie

Filme baseado em uma peça do grupo Teatro de Arena, de autoria de Gianfrancesco Guarnieri, sobre a vida cotidiana de família de operários, em um contexto – no caso específico do filme, e do momento histórico de seu lançamento – que sinalizava o ocaso de um período autoritário e, por isso mesmo, de recrudescimento das relações sociais, e o impacto desse momento nas relações familiares dos seus elementos, cada um a seu modo premido pelas condições materiais da vida proletária.
O pai, operário metalúrgico engajado na luta sindical e com uma visão combativa baseada na luta de classes. O filho, pelego, com uma visão mais pragmática sem nenhum apego pela ideologia que alimentava o movimento sindical como meta superior, que transcendia intelectualmente a aceitação da condição de massa reprodutora de um modo de produção – o da propriedade privada, da mercantilização da força de trabalho e seu exército de reserva, e da mais valia como conceito absoluto.
Não assisti à peça. Assisti ao filme, entretanto não me lembro bem da trama. Acho que, ao final, pai e filho se conciliam, contudo não sei se pela conversão do segundo ou pelo abrandamento das posições do primeiro. Aliás, essa era uma tendência à época – a abertura política era um fato, assim como a revitalização das instituições e dos partidos proscritos, e a volta dos exilados – e o filme tem como pano de fundo o movimento do Sindicato dos Metalúrgicos, talvez o acontecimento que mais representou a síntese e transformação do papel da esquerda no Brasil, acompanhando o que acontecia no resto do mundo.
A ambientação é feita em uma vila de operários, situada no ABC paulista, e quase toda ação reflete as contrafrações do pensamento político, representadas pelas posições de pai e filho. Contudo, a mãe tem a importante função mediar e humanizar os conflitos.
Um filme marcante – pela luz que lançou sobre centro nervoso do capitaismo brasileiro e suas mazelas -, com direção, se não me engano, de Leon Hirzman, e um elenco que contava com Fernanda Montenegro, o próprio Gianfranceso Guarnieri e Carlos Alberto Ricelli, entre outros, que soube colocar – pela mão do diretor – de forma contemporânea os conflitos ideológicos de então.
Acima de tudo, um filme que vale a pena se revisto pela sua factualidade histórica. E, também, por sua representatividade como produção dramatúrgica e fílmica, que transpõe para as telas as alegrias e as frustrações de gente comum, e seu cotidiano, que formam a massa de operários e trabalhadores em processo de emancipação.

Por A.H.Garcia

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Eles não usam Black-Tie - A Peça e o Filme

A PEÇA
Eles não usam black-tie é uma peça de cunho social-político escrita por Gianfrancesco Guarnieri para o Teatro de Arena em 1958. A direção da peça foi realizada por José Renato com músicas de Adoniran Barbosa, encenada no Teatro de Arena, um pequeno teatro de noventa lugares em frente a praça da Consolação em São Paulo, adaptado de uma garagem, hoje Teatro Eugênio Kusnet. A estréia da peça foi a 22 de fevereiro de 1958. Foi a escolhida no Seminário de Dramaturgia do Teatro de Arena e tirou-o da falência iminente, dado o sucesso de bilheteria.

Ficou mais de um ano em cartaz em São Paulo, o que era inédito no teatro brasileiro.
Os atores da montagem inicial foram Lélia Abramo, Eugênio Kusnet, Gianfrancesco Guarnieri, Riva Nimitz, Miriam Mehler, Celeste Lima, Francisco de Assis, Milton Gonçalves, Henrique César, Flávio Migliaccio e Xandó Batista. A peça tem como tema central a greve e a vida operária, com preocupações e reflexões universais do ser humano. Mais tarde foi feita uma versão homônima da peça para o cinema, dirigida por Leon Hírzman e protagonizada pelo mesmo Guarnieri.

"Black Tie" trouxe os Camponeses e gente simples já haviam sido objeto de representação no teatro brasileiro, como em Arthur Azevedo e Nelson Rodrigues.

O FILME

Eles não usam black-tie é um filme brasileiro de 1981 dirigido por Leon Hirszman, com fotografia de Lauro Escorel e baseado na peça Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri.

Gianfrancesco Guarnieri .... Otávio
Fernanda Montenegro .... Romana
Carlos Alberto Riccelli .... Tião
Bete Mendes .... Maria
Lélia Abramo
Milton Gonçalves .... Bráulio
Denoy de Oliveira Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Inimigos Públicos

Um filme brilhante e correto. Brilhante porque seu minimalismo no tratamento dos eventos, na composição dos personagens, dá-lhes alma – indivíduos de carne e osso considerados contaminadores das instituições sociais e dos pilares do sistema, em um momento de afirmação do estado sobre os entes federados, e suas idiossincrasias coletivas. Chega a ser portanto, um filme histórico, pelo pano de fundo que se assoma de forma concreta, mas natural. Qual a relação deste mito com a afirmação do capitalismo selvagem nos Estados Unidos ?

O elenco excelente, mesclando nomes de peso com atores desconhecidos, em que pontua sem nenhuma dúvida a fenomenológica presença Johnny Depp, representando de forma magistral o papel de John Dillinger, indivíduo proscrito pelos sistemas de controle social, que encarna através do crime a subversão dos valores mais prezados pela vertente econômica da puritana sociedade americana.

O diretor Michael Mann conseguiu compor um universo extremamente intimista, e uma direção discreta e correta, sem valorizar excessivamente as cenas de impacto. Entretanto, outro grande mérito na concepção desse filme, é a direção de arte – a reconstrução da época foi perfeita, a ponto de não ser um elemento destacado mas um elemento a ser destacado.

Uma trilha sonora para não se esquecer, com Lady Day flutuando como uma deusa do apocalipse. A atmosfera passa longe do gênero noir tradicional, embora beba das suas fontes mais fundamentais – o amoralismo e o marginalismo.

O final, rápido e capital. Sem nenhuma concessão melodramática - o evento final coroa a trajetória conturbada de Jonh Dillinger.

Por A.H. Garcia

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Trama Internacional

O título remete logo a uma película de Hitchcock. Entretanto, pouco em comum tem com esse filme – talvez, ser protagonizado por uma dupla formada por um homem e uma mulher. Uma coincidência que pode significar a condição humana do indivíduo e ao mesmo tempo a sua transcendência pela superação das diferenças aparentes – aparentes enquanto diferentes. No filme de Hitchcock, a narrativa é notadamente catalisada por uma atmosfera conspiratória que se sobrepõe impessoalmente sobre os personagens. Enquanto, neste filme a globalização com sua marca ultra-capitalista, e seu rolo compressor, dão o tom hiperbólico que movimenta a trama.

O argumento do filme embora nos atinja apenas perifericamente e não faça parte de nosso cotidiano –, constituindo-se num formato esquemático sobre o poder das grandes corporações financeiras e as relações destas com interesses políticos em países do “ terceiro mundo ”, ou seja a velha forma de controle sobre suas riquezas revestindo-se em nova fórmula de exploração e acumulação, o neo-colonialismo -, apresenta um panorama verossímil e equilibra bem para os padrões atuais a abordagem do tema, a ação e o contexto globalizante da história, através do recurso de centrar a trama em uma esfera estrita - das relações subterrâneas entre a lavagem de dinheiro e instabilização política em países pobres.

Os filmes protagonizados por Clive Owen sempre têm esse apelo de crítica ao sistema, algo que ele incorpora muito bem – talvez, pela verdade que passa nas suas expressões, talvez seja ele um legítimo representante da remissão da secular culpa inglesa em suas ações ao redor do mundo, durante boa parte da história moderna.

As locações quase sempre em locais públicos, alternando planos mais fechados e planos abertos, compõem bem a atmosfera proposta para o filme, e reporta à infiltração das grandes corporações no aparelho de estado, embora o filme seja totalmente despido das teses políticas que dominaram as últimas décadas, mais precisamente a ideologia da “Guerra Fria”.

É um bom filme de ação, com bons recursos dramáticos e uma interessante leitura da relação entre a globalização e o contexto geopolítico contemporâneo.

terça-feira, 24 de março de 2009

DÚVIDA

“ Dúvida ”. Substantivo feminino que designa incerteza sobre verdades estabelecidas, ou posição que se deve adotar frente a aspectos concretos que se baseiam em tais dogmas. Pelo menos, é o que se espera quando nesta dúvida estão envolvidos questionamentos morais e metafísicos.

Poderíamos dizer, que o argumento da obra reside nessa palavra e nesses aspectos, decorrentes das contradições que marcam a formação dos quadros da igreja católica em uma sociedade predominantemente puritana – e sua irrefreável pulsão sexual.

A caracterização do ambiente, propositadamente árido e ressequido pelo frio inverno, e o jardim, que, não por acaso, concentra a significação do filme – o local onde são travados senão os diálogos mais fortes, os mais reveladores; jardim do éden ou purgatório dos ímpios. Em todo caso, lugar cujo vazio é simbolizado pelo branco da neve e a opacidade da atmosfera, que caracterizam a fotografia e a luz do filme em suas seqüências externas, e expõe a densidade e o conflito dos personagens – que se revelam como chaves para entender como se fundem e clivam fatos políticos e morais, tendo como fio condutor o embate entre uma freira e um padre.

Neste embate, há uma conotação subjacente de emasculação da figura masculina e de histeria da feminina. Identificadas respectivamente, com o subjetivismo afetado que constituiria um atributo feminino, e a rigidez moral que deveria ser um atributo masculino –, a igreja uma estrutura eminentemente patriarcal e machista, desde suas origens. Essa inversão seria interpretada como uma distorção dos papéis que predominam secularmente na igreja católica.

Quando a dogmática freira admite pateticamente no desfecho do filme, que tem dúvidas. Estas não se refeririam às relações de poder e a ética da igreja ? E não seria esse o terreno propício para o aparecimento do fenômeno da pedofilia ali ?

Phillipe Seymour Hoffman e Meryl Streep protagonizam magistralmente essa parábola contemporânea. Uma parábola que tem por objeto a própria igreja e seus segredos.

sexta-feira, 6 de março de 2009

" FORÇA POLICIAL "

“ Força Policial ” é o título em português. Em inglês, “ Pride and Glory ”. Já ouvi alhures alguma comparação com “ Tropa de Elite ”, que não vi ainda.

É um filme que traduz a visão entrópica no tratamento das questões sociais, carregada de signos que sempre permearam a cultura, e, mais especificamente, o cinema americano desde John Ford, Howard Hawks etc, do invidualismo, e, por extensão, do herói solitário, este uma instituição americana inexorável até mesmo para um filme que tem a pretensão de retratar a vida dos descendentes de irlandeses que quase se confunde com a polícia de Nova York – NYPD.

Há algumas referências à cultura gaélica, entretanto bem superficiais, assim como a abordagem de sua influência nas relações familiares. Entretanto, de uma forma geral ressai a brutalidade característica dessa população urbana, cujo o único espaço que lhes coube foi aquele – temidos entre criminosos, subalternos para o resto da sociedade.

As mulheres têm o seu lugar recatado e passivo, em uma comunidade de policiais, irlandeses e de outras etnias, às quais também é reservada essa tarefa de limpadores da cidade.

A costura da trama resulta um texto correto, que convence. O mote do filme se expressa na patogenia de uma sociedade esquizóide, que é representada pelo paradoxo do policial Jimy Egan, protagonizado pelo excelente Colin Farrel, um ser sem qualquer controle sobre seus impulsos violentos, com requintes sádicos, capaz de, ao mesmo tempo, de amar esposa e filhos com uma veemência incondicional, ou pelo menos pensar dessa forma.

O triunvirato John Voight, Edward Norton e Colin Farrel dá a consistência dramática do filme,
que flerta com o espirito trágico.

A direção equilibra bem a tensão até o desfecho do filme, que resgata a atmosfera social optando por um final catártico e grandiloquente. A fotografia sempre privilegiando um tom outonal, e a atmosfera noir que o filme reboca, contribui no resultado final.

Por Antonio Henrique Garcia

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Cinema Brasileiro

O cinema nacional. Esse grande enigma, fruto muito mais de improvisos do que de processos, ou do processo indústria – cultura. Nunca se compreendeu muito bem no Brasil o papel de um e de outro. Tivemos nossos promissores momentos com as chanchadas e a Vera Cruz, e sua tentativa de criar um pólo cinematográfico de excelência – entretanto, em um país míope para o papel do cinema como linguagem e forma de construção lingüística, houve, creio, uma regressão dessa indústria cultural decorrente de sua incapacidade de afirmação como segmento independente.

Pós-tudo, Cinema Novo. Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão ... e o cinema se conformou a ser um artefato alegórico, produzido de forma improvisada. Esse conceito foi extremamente prejudicial quanto a se estabelecer um padrão de qualidade mínimo. Apostamos no imediato como conceito de produção, com todos os efeitos decorrentes de tal opção. Produzimos muito do mesmo, e algumas coisas com potencial para serem boas.

Com toda certeza, a ditadura provocou uma subnutrição dos temas e dos meios de produção do segmento cinematográfico, que o diga o nefasto Amaral Neto.

O contexto atual guarda forte resquício do anterior, quanto ao monopólio da produção e distribuição ... A própria extinção da Embrafilme, de certa forma contirubuiu para isso. Cinema com cara de mini-série e de novela. Os atores são os mesmos, e o conceito sobretudo, é aquele. De forma geral, a televisão não é, como não foi antes, aqui, um elemento propulsor dessa indústria cultural – comprova isto, o fato de que sua fase mais prolífica foi justamente sob a ditadura ou ainda sob seus efeitos. Isto se deveu em parte à era do rádio que forjou um quadro de redatores e autores ímpar, em parte pela supressão de outras formas de linguagem e expressão mais livres. De certa forma a televisão, no Brasil, substituiu o cinema. Talvez, decorra daí a panacéia de um formato e um padrão estético similar.

Nossa produção entretanto é medíocre, se levarmos em conta os roteiros fraquíssimos, a falta de contundência e aprofundamento no tratamento dos temas. E o pior, filmes com um certo tom programático – clones de Amaral Neto?

Embora já existam produções independentes pelo país afora, muita coisa ainda está por fazer. Temos que criar uma cultura cinematográfica desatrelada da televisiva, com uma estética própria. Uma indústria tecnologicamente aparelhada, com quadros com formação técnica específica, incluindo-se aí uma ênfase no desenvolvimento de roteiros.

Por Antonio Henrique Garcia