O filme é um romance sobre um
ator e suas paixões desenfreadas ... ou sobre como a libido em estado puro transcende a moral e os bons costumes ... ou, como o senso comum pode ser tedioso, neurótico e saudável.
Enfim, são várias as possíveis leituras que se pode ter
distanciadamente, não fosse o choque de realismo que acompanha o desenrolar da narrativa que não abdica em momento algum da linguagem
direta e sem concessões (
melodramáticas), abordando a relação entre um homem em pleno ocaso existencial e uma jovem suburbana em cenas ricas em texto e significados,
refrações do sentido da vida ... ou melhor, do poder da vida.
Vale a pena ver ... o que para alguns pode ser humilhante ou degradante, pode ser belo e natural para outros. Daí o nome do filme -
Vênus.
Os
atores - termo, aqui impregnado do seu significado
lato - são a puríssima estirpe da escola inglesa. Para mim, levam a um transe, delírio e ápice infundidos por uma composição
representativa, que
implode e expõe o
pathos da estrutura social compressora, que informa, deforma e conforma. E, no fim de tudo, ainda somos nós depois dessa grande ilusão ...
Sou suspeito para falar de
Peter O'
tolle desde um filme em que faz um fugitivo inglês
claustrofóbicamente acuado em buraco por soldados nazistas, no qual dá um
solo de expressões, que, simplesmente, prescinde de qualquer palavra, e torna o filme um tratado sobre as emoções humanas ... e depois, aquela ambiguidade que ele imprime ao personagem de "Lawrence da Arábia" .
Vanessa
Redgrave - e sua beleza insondável
em "
Blow Up" - é uma
musa délfica em cena ... sem contar o elenco de apoio - magistral.
A trilha sonora é maravilhosa e
contemporânea, pontuando The Cranberries.
Mais uma vez, vi no canal fechado naqueles horários menos
concorridos, ou seja, nas alturas da madrugada. Contudo, fico embevecido,
catatônico, quando sou tocado por essas obras que o cinema ainda me
proporciona e irá sempre me
proporcionar.
"
Vênus".
Por A.H.Garcia