terça-feira, 25 de janeiro de 2011

" O homem que copiava "

O filme me interessou, na época, porque seria rodado em Porto Alegre. O lugar ao mesmo tempo mais cosmopolita do Brasil e um dos mais chauvinistas também. Em suma, é a síntese do ambiente urbano contemporâneo - muito louco e xenófobo. Acontece que ali é tudo muito extremado, a própria história do Estado confere isso. Revoluções separatistas, lutas territorialistas e uma identidade marcada por uma vocação libertária, quase anarquista, cujo maior símbolo foi o próprio Giuseppe Garibaldi. A priori, me pareceu que a história seria mais ambiciosa, do ponto de vista da razões acima e por um viés existencialista que permeia as relações que brotam nos núcleos dos grandes centros urbanos - argumento do filme -, que os americanos chamam de "downtown", e tem uma significação underground quando se amplia o foco sobre o cotidiano desses lugares. Pessoas comuns, que quase sempre habitam pequenos apartamentos - no sentido que Foucault dá ao termo, de controle e segregação social. Pela estética próxima dos quadrinhos, o tratamento minimalista que o diretor Jorge Furtado dedica à composição dos personagens e uma fotografia com um matiz "noir" muito bem editada, o filme fez carreira em festivais no Brasil e no exterior, tendo arrematado o prêmio de melhor Diretor e atores coadjuvantes com Pedro Cardoso e Luana Piovani, no Grande Prêmio Brasil de Cinema de 2004, contando com a participação de Lázaro Ramos e Leandra Leal como protagonistas, e Paulo José, o filme se tornou um "cult" contemporâneo do cinema nacional. Por A.H.Garcia Sinopse:

O filme, ambientado na zona norte da cidade de Porto Alegre, conta a história de André, um jovem operador de fotocopiadoras que precisa de 38 reais para se aproximar de sua vizinha Sílvia, por quem está apaixonado. Para isso, é ajudado por Cardoso, empregado de uma oficina, que topa qualquer coisa por dinheiro. Marinês é uma jovem que explora sua sensualidade para ascender na vida, e acaba se identificando com Cardoso.

Fonte: Wikipédia

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vênus

O filme é um romance sobre um ator e suas paixões desenfreadas ... ou sobre como a libido em estado puro transcende a moral e os bons costumes ... ou, como o senso comum pode ser tedioso, neurótico e saudável. Enfim, são várias as possíveis leituras que se pode ter distanciadamente, não fosse o choque de realismo que acompanha o desenrolar da narrativa que não abdica em momento algum da linguagem direta e sem concessões ( melodramáticas), abordando a relação entre um homem em pleno ocaso existencial e uma jovem suburbana em cenas ricas em texto e significados, refrações do sentido da vida ... ou melhor, do poder da vida. Vale a pena ver ... o que para alguns pode ser humilhante ou degradante, pode ser belo e natural para outros. Daí o nome do filme - Vênus. Os atores - termo, aqui impregnado do seu significado lato - são a puríssima estirpe da escola inglesa. Para mim, levam a um transe, delírio e ápice infundidos por uma composição representativa, que implode e expõe o pathos da estrutura social compressora, que informa, deforma e conforma. E, no fim de tudo, ainda somos nós depois dessa grande ilusão ... Sou suspeito para falar de Peter O'tolle desde um filme em que faz um fugitivo inglês claustrofóbicamente acuado em buraco por soldados nazistas, no qual dá um solo de expressões, que, simplesmente, prescinde de qualquer palavra, e torna o filme um tratado sobre as emoções humanas ... e depois, aquela ambiguidade que ele imprime ao personagem de "Lawrence da Arábia" . Vanessa Redgrave - e sua beleza insondável em "Blow Up" - é uma musa délfica em cena ... sem contar o elenco de apoio - magistral. A trilha sonora é maravilhosa e contemporânea, pontuando The Cranberries. Mais uma vez, vi no canal fechado naqueles horários menos concorridos, ou seja, nas alturas da madrugada. Contudo, fico embevecido, catatônico, quando sou tocado por essas obras que o cinema ainda me proporciona e irá sempre me proporcionar. "Vênus". Por A.H.Garcia