quarta-feira, 25 de junho de 2008

Cinema, Estrutura e Entretenimento

Marshall Mcluhan credita ao cinema, a grande forma de comunicação de massa desde a invenção da tipografia. Entretanto, acrescenta uma vantagem que a linguagem escrita não pode dar conta: a simultaneidade descritiva. Sendo assim, faz uma relação entre literatura e cinema; os romances teriam monopolizado a imaginação da idade moderna, inaugurada entre outros por Gutemberg.Esta perspectiva entretanto o faz associar tal expressão, como característica de sociedades letradas. O que explica que, os primeiros filmes de diretores como D.W. Griffith e Rene Clair tenham seguido a linha do Romance documental ou social, como por exemplo as novelas de Dickens. Linearidade que não seria possível no cinema russo de então, por se tratar esta de cultura de tradição oral. No entanto, não seria essa apenas a razão de tal diferenciação. Na Rússia, Eisenstein fazia experimentos com outros tipos de manifestação, como o Teatro, por exemplo, justapondo ao texto imagens. Era, então, a época do Dadaísmo e do Construtivismo - este basicamente relacionado com a arte como objeto de popularização. Mais tarde, o próprio Mcluhan emancipa o cinema das letras, proclamando sua modernidade nas obras de Chaplin, tanto estética - associando sua movimentação a um balé -, quanto no seu conteúdo crítico - Tempos Modernos, por exemplo. Como se vê, o cinema foi se nutrindo de mais e mais formas de arte. O som, entretanto, veio a ser um problema ... para todos. O filme passou então a ser objeto de um aparato industrial, que mudou seu formato e as reações a ele. Forjou-se então uma nova linguagem que incorporaria a articulação sonora. E mais tarde, a Televisão. Produto industrial, ainda não de todo digerido até os nossos dias ... o filme é um artefato cultural prenhe de significações subliminares, mesmo como forma de entretenimento ... ele, através dos seus ícones e signos, molda comportamentos e consciências.

Por Antonio Henrique Garcia

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Os Reis da Rua

“Os Reis da Rua” bem que poderia ser um chavão aplicável à relação atual entre a Polícia e a População Brasileira, contudo é o título de um filme cujo argumento é a protagonização de personagens que têm um tom trágico que perpassa por toda a história da civilização moderna, encenada desde antiguidade clássica até nossos dias – a complexa imbricação entre o Bem e o Mal, Criador e Criatura.

Uma direção que focaliza a densidade dos personagens principais – seres profundamente voláteis -, no entanto não deixa de cair naqueles velhos estereótipos do gênero: como os homens são durões em situações limite – onde o protagonista está sempre em confronto com a morte ...

Esse o maior pecado do filme, apelo exagerado à violência explícita, o que o faz parecer apenas mais um filme de polícia e bandido. A Sétima Arte definitivamente passa por um período de pobreza cultural, de superficialidade filosófica, e por fim banalização das coisas – produto da ação do homem que sobrevém sobre ele mesmo, com seus artefatos milagrosos e letais ... Isto emprobece o conflito tão esperado do filme entre pai e filho, mentor e pupilo ... A necessidade de contextualização da trama, legítima em si, também caiu na banalização do discurso do dinheiro e poder – a corrupção como um mal da alma, algo que corrói dolorosamente valores éticos e morais, foi um mero um recurso retórico.

Os personagens, em decorrência estão um pouco fakes. Estranho, ver o Forrest Withaker com aquela caracterização, e previsível o formato do Keanu Reeves, como um caubói moderno. Entretanto, ambos os atores têm carisma e carregam o filme.

O desfecho foi completamente previsível – vamos dizer lacônico – para o que se pretendeu mostrar, o confronto entre gigantes, diria mesmo entre mitos da História e do Teatro. Mais uma vez Los Angeles e suas colinas que descortinam o olimpo foram o pano de fundo e a grande atração, talvez o cenário tenha sido o maior apelo deste filme.

Por Antonio Henrique Garcia