terça-feira, 15 de novembro de 2011

Nunca vi um título tão apropriado: A PELE QUE HABITO

La Piel que HabitoOutro filme de Almodóvar, que expõe a nu o desejo - el desejo, sua produtora - como elemento transgressor da moral civilizatória. Remeto-me aqui contudo, deixando de lado as redundâncias sobre sua obra, à sua subversão ... me lembro que usei a expressão - para uma amiga, um casal com quem assisti ao filme - visceral. Mas toda obra dele é um tratado sobre a visceralidade ... embora o filme também seja sobre vísceras literalmente - e o que lhe recobre, a pele.

Voltando à minha subversão. Aparentemente, o argumento do filme é sobre a loucura de um homem que se utiliza todos os seus conhecimentos racionais para copiar um indivíduo, no caso sua infiel esposa. O elemento impactante de que Almodóvar se utiliza no filme, é que o modelo e a cópia são indivíduos de sexos diferentes, isto é, há uma mudança de sexo.

Todavia, o aspecto subversor neste filme está em que Almodóvar deixa entrever a questão moral que se superpõe ... A interrogação: há limites até para o prazer - o limite da patologia, tão bem situado institucionalmente por Foucault.

Pareceu-me ao final, que havia algo de "moralista" no desenlace do filme, algo que pune a pretensão do médico vivido por Banderas de transformar a sexualidade - talvez a utilização que hoje se faz do sexo, da sua banalização.

Imperdível, esse novo Almodóvar, acompanhado novamente por Banderas - que parece ser sua criatura - e a indefectível Marisa Paredes, ícone de sua obra.

Por A.H.Garcia 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

SUSIE E OS BAKERS BOYS



Esse é daqueles filmes que ficam no inconsciente. Ficou no meu por mais de vinte  anos, vivo.

Michelle Pfeiffer, Jeff Bridges e Beau Bridges. Pela ordem no firmamento, de cima para baixo.

O que é que se faz com um excelente roteiro, sobre um argumento que se delonga sobre o limbo ... o limbo, no caso, daqueles que não alcançaram os afagos do mainstream, os holofotes do showbiss e o "sucesso".

O filme, essencialmente, versa sobre a visceralidade da vida que não se pode simplesmente reprimir encaixando-a dentro de limites convencionais, acompanhado por uma trilha musical que vai de Cole Porter a Morris Albert, com um suingue diferente, que lhe transporta a uma outra dimensão e fica esteticamente impressa na sua alma - sentidos, memória, inconsciente etc... ou seja qual for o termo que lhe quiserem atribuir.

Voltando ao roteiro, é uma obra de arte que extrapola as fronteiras de um roteiro de cinema ... composto por diálogos que deixariam até Sartre corado. Ao mesmo tempo, encontra-se o romance, mas não um simples romance. É difícil se construir um clima idílico em uma ambientação marginal de uma riqueza vital que mexe tanto com o coração quanto os intestinos ... isso é a vida !

Dois irmãos, que vivem uma simbiose: um sobrevive e tem uma perspectiva artística medíocre e um estilo de vida compatível com esta perspectiva; o outro, esconde-se atrás de uma atitude cínica e existencialista, que nega qualquer tipo de sentimento ou valor moral, e exercita esse vazio em jam sessions de jazz nas madrugadas de Seattle.

Uma mulher intensa e anticonvencional, com uma presença de palco invulgar e uma voz impregnada daquele acento mundano que transita livremente sobre temas diversos, enfim uma Marlene Dietricht em  " O Anjo Azul".

Uma trilha sonora maravilhosa de Dave Grusin, com direito a uma performance musical contida e irrepreensível de Michelle Pfeiffer, cantando "My Funny Valentine".

Sacuda isto tudo ... e você terá um filme autêntico, denso e com um profundo senso estético sobre música contemporânea americana e mais, sobre a existência humana, com seus altos e seus baixos, seus picos e suas depressões.


Por A.H.Garcia  

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CAPITÃO AMÉRICA

Capitão AméricaFui ver "Homem Aranha", e ficou aquele gostinho nostálgico - nostalgia contudo, não da época - de quando via os episódios em desenho animado e aquilo me bastava. Existem aqueles tipos de aficcionados cujo ícone tem uma significação estética - uma certa arquitetura existencial, com a qual ele se identifica. Penso que sou um desses, ou melhor, fui um desses ... até ter uma percepção mais crítica desses tipos, heróis - o sujeito solitário, incompreendido, à margem dos códigos sociais, que tem valores próprios que o impulsionam a agir moralmente, construindo uma conecção muito particular e simbólica com o mundo, o protótipo do colonizador puritano do novo mundo.

Acho que o Homem Aranha foi o herói mais acabado dos quadrinhos e da tv, por ser o mais próximo do ser humano ... e possuir uma complexidade urbana com a qual me identifiquei naturalmente.

Assisti também aos dois filmes do "Homem de Ferro". Filmes definitivamente com conteúdos ideológicos evidentes ... embora, tenham se mantido fiel ao espírito "guerra fria" da época. Tecnologia e Poder são o binômio sobre o qual se assentam os filmes, e a nova forma do capitalismo americano. Alcança-se um limite exponencial: até que ponto vai o poder do indivíduo, sob a retórica proposta pelo próprio herói de exercer seu poder em nome do estado.


Qual o significado disso: chegou-se ao nirvana liberal do cidadão-estado ou à culminância de visão totalitária ... me parece que questão deste paradoxo é um velho dilema recorrente da esquizofrenia coletiva da sociedade americana puritana: como em "O médico e o monstro", de R.L. Stevenson, embora este faça uma investigação sobre a natureza humana, ele indaga qual o limite do homem para o bem ou para o mal, duas categorias fundamentais e extremamente totalitárias de se representar a natureza humana.

Recentemente assisti "Capitão América". Na época em que se passava o desenho, nos idos dos anos 60/70, o mais emblemático dos agora "super-heróis" ... ele carregava todo o peso da guerra fria, sofria de delírios, pesadelos, tinha um comportamento esquivo ... parecia dizer, não se meta com isso, ou, às vezes temos que fazer coisas muito graves ... A denominação "Capitão América" se aplicou como uma luva a este "agente-reagente", que representava o sacrifício puritano, a negação de si mesmo em nome do status quo e da ordem universal etc.

O Capitão América do filme é bem mais light ... reflete a fragilidade contemporânea do império americano, e procura talvez uma explicação para si mesmo, no mundo atual.

A última cena do filme traduz isso.

Por A.H.Garcia   

sábado, 6 de agosto de 2011

"Em terra de cego ... e O homem que queria ser rei"

michael-caine-and-sean-connery

Conto de H.G.Wells homônimo, se lhe referenciarmos o dito popular, sabiamente conotando situações em que grassam a ignorancia e a mediocridade, de forma impositiva, que degeneram para uma impostura geral. É dessas narrativas que exploram com singular profundidade aspectos da sociedade humana, que rebatem na dualidade temporalidade-atemporalidade, criando uma ficção que mais tarde precursora do gênero Ficção Científica, propõe situações inusitadas e talvez fantásticas até ...

Essa ponderabilidade - talvez - decorre da linguagem povoada de uma racionalidade ao mesmo tempo cartesiana e peculiar, que invoca o improvável com uma maestria absurda ... herdeira de Locke e Kant, projetando o mundo das coisas para o desconhecido e dentro dele próprio, com suas fantasmagorias desmitificadoras ...

" Em Terra de Cego Quem Tem Um Olho é Rei" é uma magistral história, que faz parte coletânea organizada por Ítalo Calvino sobre Contos Fantásticos do Século XIX, que recria a humanidade representada numa hipotética sociedade de indvíduos cegos que, não por caso, vive isolada em si mesma, com códigos de conduta que só se aplicam ao seu mundo - primado pela falta de visionaridade ...

Traço um paralelo aqui com o filme "O Homem Que Queria Ser Rei", com os grandes Michael Caine e Sean Connery, cujos personagens - dois exploradores ingleses - que empreendem uma viagem ali pelo que hoje poderia ser a região do Paquistão, India ou Nepal,  para criar seu próprio império pessoal, nos mesmos moldes da política colonialista de superexploração e acumulação material.

Um grande filme portanto, para assistir.


Por A.H.Garcia

domingo, 17 de julho de 2011

Comentários da Madrugada

Assisti a 03 filmes interessantes, ou potencialmente interessantes, aproveitando a abertura inesperada dos canais Telecine. As noites deveriam ser preenchidas com bons filmes e uma boa literatura - esta acompanhada sempre de uma agradável brisa tropical.

Confesso que estava meio eufórico com as opções inusitadas, pois meu pacote não inclui os canais especializados em filmes ... cansei de ver repetições ... entretanto, fiquei, como chamamos no tênis, no "mata-burro", pois os pacotes com canais de filmes encarecem demais o preço da assinatura; esta sem os canais de filmes ficam caras demais, para o que oferecem. É a manipulação do mercado oligopolizado.

Voltando aos filmes, dos três o que assisti por mais tempo foi um uma produção inglesa. O título (em português), RESGATE DE ÓRGÃOS. Com Jude Law, Alice Braga, Liv Schreiber e Forrest Whitaker. Elenco interessante, argumento instigante e produção nos padrões dos financiamentos independentes.

Num futuro já presente , o mote do filme é a denúncia do que já ocorre contemporâneamente - o tráfico de órgãos. Se fizermos um paralelo com o filme de Fernando Meirelles, O Jardineiro Fiel, que expõe a utilização de cobaias humanas na África, por grandes corporações da indústria química, verifica-se que estes são temas que - embora malditos, - começam a despertar a opinião pública das sociedades mais informadas. Não sei se por alguma coincidência, ambas as produções são inglesas - o iluminismo inglês ? -, e contam em seus quadros com profissionais brasileiros, como o próprio Meireles e a atriz Alice Braga.

Londres com sua fria atmosfera, seu caldeirão de culturas e último bastião do capitalismo neoliberal (herança da dama de ferro), por outro lado, é um cenário propício aos questionamentos dos grandes paradoxos que acompanham o capitalismo desde a Revolução Industrial. E a mercantilização de órgãos seria o paroxismo de tais contradições.

O argumento é o de que o transplante de órgãos virou mais um segmento mercadológico das economias capitalistas. Entretanto, o gozo do benefício desses órgãos requer uma relação de vassalagem, e aqueles que não pagam seu quinhão são suprimidos pelos resgatadores de órgãos ... relação apantemente vinculada a um mero descumprimento de uma obrigação contratual. A mercantilização ( ou controle) do indivíduo evolui ou se descola para uma mercatilização da vida.

É a última etapa para artificialização da vida. Uma tese que tem muitos antecessores na própria Inglaterra, como Aldous Huxlei ( Admirável Mundo Novo e Paradoxus ) e George Orwel ( 1984 ). E o próprio Foucault, e as instituições de controle e segregação do indivíduo, como artefatos estruturais.

....

Zapiei ... e achei outro filme algo interessante: INFORMERS. Assisti os últimos minutos  e a canção final com os créditos - esta sempre agrada, como uma harmonia subliminar que compacta tudo na nossa memória.

Quanto ao filme, lembrou- me daquele último do diretor Robert Altman. Tendo Los Angeles como pano de fundo, tenta mostrar de forma simultânea os diversos conflitos que mediam as relações humanas em uma sociedade multifacetada, como são as das grandes metrópoles. O final é poético mas um tanto mórbido: parece um rito de morte solitária de uma linda mulher,  em Malibu ...

O elenco é grande e formado por atores subestimados pelo mainstream, como Winona Rider, Mickey Rourke, Kim Basinger e outros ... e  há uma dedicatória no final para um jovem ator morto por overdose, chamado Brad Renfro, antes dos créditos, sintetizando o significado do filme e seu significante: a marginalização.

...

Ao final, outro filme: A EDUCAÇÃO DE CHARLIE (em português), com Jesse Eisenberg - ator que
gosto, não por FACEBOOK, mas por outros filmes. Esse é um deles. Eisenberg em geral fez papeis que sedimentaram um tipo que encarna ideais românticos ... e quem não gosta de um ator que faz isso com um ar quase angelical e uma certa dose de intelecto.

Esse filme é mais uma daqueles, o ar ingênuo e moralista do personagem parece estar gestando o astro de FACEBOOK. 


Por A.H.Garcia

terça-feira, 12 de julho de 2011

CINEMA POLÍTICO ITALIANO

A Classe Operária vai ao Paraíso (1971), Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita (1970) e Giordano Bruno (1973).

Trilogia do Diretor Elio Petri e do ator Gian Maria Volanté, sobre o cotidiano e a história italiana sob o foco político, isto é, como se engendram e clivam as relações sociais e as relações de poder, sob diversos pontos de vista.

A Classe Operária ... por exemplo, fala do cotidiano de Lulu, um operário industrial. Refletindo sobre a alienação e o engajamento político, e, como as condições materiais interferem na vida individual. O paraíso poderia ser a própria consciência de classe, ou na linguagem atual de grupo social.

Investigação sobre um Cidadão ... é uma reflexão sobre a significação do poder como instrumento repressor e o corporativismo policial como lógica de manutenção do status quo.

Já Giordano .... baseia-se no caso verídico da execução do filósofo italiano Giordano Bruno pela inquisição.

Em tempos de Césare Battisti, é uma boa pedida para se tentar compreender o cenário político italiano dos últimos 40 anos.

Por A.H.Garcia

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Meia-noite em Paris

Um filme de Woody Allen. Muitos vão dizer que ele já está ficando datado, com as mesmas referências ... e que ele já foi mais crítico, cáustico e inventivo.

Um filme de Woody Allen contudo, é como uma pequena peça do complexo painel que é a sua filmografia. Inicialmente com filmes intimistas - não à toa, estrelados por suas musas de então, Diane Keaton e Mia Farrow - com uma linguagem pícara próxima à do palhaço(clown), entretanto que espicaçava os grandes temas dos anos 70 - a liberdade existencial - e 80 - a psicanálise. Filmes que, não por acaso, refletiam também sua vida pessoal e a personalidade de suas divas, como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e Hanna e suas Irmãs, entre tantos outros.

Sua produção nesse período foi prolífica. Citaria um filme muito importante, que, para mim, foi um divisor de águas em sua obra: Zelig. Zelig, o Camaleão, foi uma incursão na modernidade, uma brincadeira com a linguagem da indústria e seus signos, de uma iconoclastia que detonava suavemente a cultura de massa.

Só consigo enxergar seu último filme através desse background que extrapolou, de longe, a embocadura prosaica que hoje ele ostenta. " Meia-noite em Paris" é uma crônica, que, não à toa, se utiliza de elementos fabulários ou do fantástico ... a oposição entre a realidade e o idealismo quase patético do protagonista do filme, em um processo de alienação que beira a loucura, e o conflito com uma elite fechada como uma ostra em seus dogmas anacrônicos, resultam ao seu final, na superação consciente do protagonista da sua negação e fuga da realidade, tendo como pano de fundo a "Era do Jazz" e os anos 20, possivelmente os mais profícuos para a literatura americana - no qual eles conseguiram deslocar o eixo de sua temática para o que estava acontecendo no resto do mundo, a Revolução Espanhola e os movimentos culturais que aconteciam em Paris.

Aliás, o protagonista do filme, um escritor de roteiros de cinema que quer se tornar um escritor de romances - um clichê dos mais batidos -, é como sempre o alterego do diretor. Owen Wilson entretanto escapa da banalidade, interpretando o papel minimalisticamente como se fosse o próprio Woody Allen.

Acho que Allen, como o Zelig, parodiou a si mesmo.

P.S. Obrigado Arnaldo, pelo bom gosto. Um viva a todos os Ivans Ilitich, que estão por aí.

Por A.H.Garcia

sexta-feira, 25 de março de 2011

A Megera Domada

Megera Domada para mim é um dos três melhores filmes com Elizabeth Taylor - os outros dois, Gata em Teto de Zinco Quente e Quem tem medo de Virginia Wolff -, e, não por mera coincidência, está entre suas melhores atuações. Um texto muito inteligente, de Shakespeare, cheio de diálogos ageis, cortantes e ferinos.

Esta paródia sobre os costumes medievais, brilhantemente transposta com todo seu arcabouço teatral para o cinema, na direção de Franco Zeffirelli, em 1967, teve como protagonistas Richard Burton e Elizabeth Taylor. A atuação da dupla foi perfeita, e Zeffirelli manteve-se fiel à linguagem teatral, porém lhe acrescentando os recursos que o cinema poderia proporcionar, adicionando ao texto falado uma fotografia em pequenos planos com uma abordagem pictórica e uma iluminação cênica, que realçam a ação e o movimento dos personagens.

A química entre os dois protagonistas - esta, ia além das telas, com a mesma intensidade - , seu timing e movimento corporal, e a familiaridade do diretor na abordagem do tema, resultam em uma atuação perfeita de ambos. Sobretudo, pode-se positivamente evidenciar o talento de Liz Taylor como atriz, inseparável de sua beleza irresistível. Para mim, Elizabeth Taylor possuía esse especialíssimo dom de fundir talento, inteligência e beleza.

Li em uma sinopse na internet, que obra seria uma comédia sobre a visão "chauvinista" masculina e a emancipação da mulher no século XVI. Acho que me descobri um tanto quanto "chauvinista", pois a personagem Katharina, para mim, representou um exemplar do que é ser uma megera.

Quem quiser apreciar a filmografia Elisabeth Taylor, sugiro esses três filmes como os mais significativos e importantes.

No mais, estamos dando adeus a uma das últimas divas de Hollywood. Contudo, atrás de todo clichê tem algo imanente e definitivo, e acho que Liz Taylor tem esse algo.

Por A.H.Garcia

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

" O homem que copiava "

O filme me interessou, na época, porque seria rodado em Porto Alegre. O lugar ao mesmo tempo mais cosmopolita do Brasil e um dos mais chauvinistas também. Em suma, é a síntese do ambiente urbano contemporâneo - muito louco e xenófobo. Acontece que ali é tudo muito extremado, a própria história do Estado confere isso. Revoluções separatistas, lutas territorialistas e uma identidade marcada por uma vocação libertária, quase anarquista, cujo maior símbolo foi o próprio Giuseppe Garibaldi. A priori, me pareceu que a história seria mais ambiciosa, do ponto de vista da razões acima e por um viés existencialista que permeia as relações que brotam nos núcleos dos grandes centros urbanos - argumento do filme -, que os americanos chamam de "downtown", e tem uma significação underground quando se amplia o foco sobre o cotidiano desses lugares. Pessoas comuns, que quase sempre habitam pequenos apartamentos - no sentido que Foucault dá ao termo, de controle e segregação social. Pela estética próxima dos quadrinhos, o tratamento minimalista que o diretor Jorge Furtado dedica à composição dos personagens e uma fotografia com um matiz "noir" muito bem editada, o filme fez carreira em festivais no Brasil e no exterior, tendo arrematado o prêmio de melhor Diretor e atores coadjuvantes com Pedro Cardoso e Luana Piovani, no Grande Prêmio Brasil de Cinema de 2004, contando com a participação de Lázaro Ramos e Leandra Leal como protagonistas, e Paulo José, o filme se tornou um "cult" contemporâneo do cinema nacional. Por A.H.Garcia Sinopse:

O filme, ambientado na zona norte da cidade de Porto Alegre, conta a história de André, um jovem operador de fotocopiadoras que precisa de 38 reais para se aproximar de sua vizinha Sílvia, por quem está apaixonado. Para isso, é ajudado por Cardoso, empregado de uma oficina, que topa qualquer coisa por dinheiro. Marinês é uma jovem que explora sua sensualidade para ascender na vida, e acaba se identificando com Cardoso.

Fonte: Wikipédia

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Vênus

O filme é um romance sobre um ator e suas paixões desenfreadas ... ou sobre como a libido em estado puro transcende a moral e os bons costumes ... ou, como o senso comum pode ser tedioso, neurótico e saudável. Enfim, são várias as possíveis leituras que se pode ter distanciadamente, não fosse o choque de realismo que acompanha o desenrolar da narrativa que não abdica em momento algum da linguagem direta e sem concessões ( melodramáticas), abordando a relação entre um homem em pleno ocaso existencial e uma jovem suburbana em cenas ricas em texto e significados, refrações do sentido da vida ... ou melhor, do poder da vida. Vale a pena ver ... o que para alguns pode ser humilhante ou degradante, pode ser belo e natural para outros. Daí o nome do filme - Vênus. Os atores - termo, aqui impregnado do seu significado lato - são a puríssima estirpe da escola inglesa. Para mim, levam a um transe, delírio e ápice infundidos por uma composição representativa, que implode e expõe o pathos da estrutura social compressora, que informa, deforma e conforma. E, no fim de tudo, ainda somos nós depois dessa grande ilusão ... Sou suspeito para falar de Peter O'tolle desde um filme em que faz um fugitivo inglês claustrofóbicamente acuado em buraco por soldados nazistas, no qual dá um solo de expressões, que, simplesmente, prescinde de qualquer palavra, e torna o filme um tratado sobre as emoções humanas ... e depois, aquela ambiguidade que ele imprime ao personagem de "Lawrence da Arábia" . Vanessa Redgrave - e sua beleza insondável em "Blow Up" - é uma musa délfica em cena ... sem contar o elenco de apoio - magistral. A trilha sonora é maravilhosa e contemporânea, pontuando The Cranberries. Mais uma vez, vi no canal fechado naqueles horários menos concorridos, ou seja, nas alturas da madrugada. Contudo, fico embevecido, catatônico, quando sou tocado por essas obras que o cinema ainda me proporciona e irá sempre me proporcionar. "Vênus". Por A.H.Garcia