segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Vício Frenético

O título em português, mais uma vez, me soa estranho. O termo “frenético” no entanto, tem muito em comum com o ritmo da narrativa e a textualidade da película. A significação aí, não é meramente um jogo de palavras, mas a materialização de uma história pseudamente bizarra. Enfim, um filme de Werner Herzogh, com os delírios e os arroubos visionários de seu realizador.

Nesse caso, essa marca registrada do diretor produziu maior comicidade para quem o assiste, sem contudo resvalar para a comédia ou a paródia -, seria muito simples descrever assim o comportamento “patológico” do protagonista. Este, contudo, o mesmo visionário de Fritzcarraldo ou Aguirre. O que mudou radicalmente foi o contexto – marcado pela contemporaneidade e a ubiquidade dos fenômenos sociais, notadamente em um país da importância dos Estados Unidos.


A cena do filme se dá em Nova Orleans. Flanco da América do Norte com os atributos necessários para a visão libertária e marginal de Herzogh -, que constrói um filme ao mesmo tempo próximo dos padrões e altamente subversivo, tanto em relação à significação dos elementos dramáticos quanto dos símbolos de que se utiliza. As loucuras risíveis do protagonista tem seu desdobramento potencializado pelos simbolos representados pelos reptéis que só ele vê, e que ancoram a história no fabulário proposto como forma narrativa pelo autor-diretor.


O fotografia está magnífica. Remete ao cinema expressionista com o recurso simples ao jogo de luz e sombras, e os closes em Nicolas Cage possuem uma expressão muito próxima daquela do Dr. Caligari, de Robert Weine, – eminente mistificador ... alguma correlação com regimes fascistas ... parece que isto passou pela censura da “indústria”.


O final para muitos é motivo de perplexidade, pois não há um desenlace. Este notavelmente antecipado pelo diretor, quando todos os desejos imediatos e básicos do protagonista se materializam, e os prêmios são-lhe ironicamente concedidos. Diria mesmo, que o detetive muito bem representado pelo Nicolas Cage é um legítimo herdeiro do Dr. Caligari. E a perplexidade deveria dar lugar à reflexão.

Salve Werner Herzogh!

Por A.H. Garcia