quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"Lembranças Vivas ..."

O título em português, como sempre prolixo e reduzido quanto à significação. Ou seja, de uma impropriedade incrível ... chama-se “ Lembranças Vivas ” – absorto, não me lembrei de ver o título em inglês nos créditos finais.

É um filme feito nos anos 90, com participação fundamental do clã Sheen, leia-se Emilio Estevez – ator e diretor – e Martin Sheen – ator -, contando ainda com uma atuação irritantemente magistral de Kathy Bates.

Um relato pungente não só sobre a guerra do vietnan, mas sobre as relações sociais e familiares, como relações de poder orquestradas subliminarmente na cabeça de cada um daqueles que detinham a manipulação da razão – em nome da ética da honra e glória da guerra, transfigura-se o sacrifício puritano, outrora castração da libido, em um adestramento movido pela repressão a qualquer emoção humana – como instrumento de massificação de uma ideologia totalitária. A juventude nazista talvez fosse um pouco mais perversa do que isso.

O texto e a direção do filme, mostram o quadro agonizante de uma família em um processo intestino de luta entre realidade e aparência, entre perfeição e mutilação, que ao fim irá se definir com o expurgo daquele que um dia foi herói de guerra, orgulho da família. O momento marcante em que tudo ganha força e sentido, é quando, diante da fragilidade do filho, o pai o expulsa da casa vociferando descontroladamente que era ele quem mandava... o óbvio se apresenta sem distorção – a ordem não admite contra-ordem.

O filme baseou-se em uma peça. Há um tom dramático que permeia os diálogos, utilizando-se com propriedade do recurso teatral na construção dos personagens e na tensão crescente que o diretor imprime em cada cena – valorizando a ação em detrimento dos planos, com uma fotografia que privilegiou suas expressões em closes que captavam a tensão latente que estava por eclodir. Mesmo as cenas externas, simbolizavam o horror paranóico do protagonista; enquanto sua coexistência dentro da casa com os pais – e a irmã – se parecia com o inferno dantesco.

A simbiose entre personagem e ator tão cara ao teatro, foi muito feliz. Pela coesão do elenco, é difícil se falar do desempenho de um ou de outro ator, embora Kathy Bates tenha levado ao extremo a loucura e a alienação da dona de casa frustrada e ressentida, dos anos 60.