quarta-feira, 18 de novembro de 2009

PLUTOCRACIA x DEMOCRACIA

Esse é o resumo da ópera. O resto são efeitos especiais muito bem feitos e também muito previsíveis. E uma trilha grandiloquente para completar a atmosfera catastrófica – que tem o efeito colateral de acentuar o tom patético dos romances que sempre temperam esse tipo de filme. Afinal nem só de catástrofes vive hollywood.

Duas coisas se destacam como objeto de reflexão sobre o tema do filme. A compulsão nacional dos Estados Unidos sobre a questão do fim dos tempos – isto tem início desde a colonização, com o cerne do fundamentalismo abrigado nos porões do Mayflower e que perdura até os nossos dias, nas mentes e nas engrenagens produtivas da indústria americana, vide a corrida aeroespacial, nuclear, bélica etc – perigosamente extravasadas pelos fanáticos de plantão ...

Outro ponto bastante interessante. O problema central do mundo inteiro, mas mais dramático ainda para o bastião do Laissez Faire, o dilema Plutocracia x Democracia -, melhor, a questão moral -, afinal o mundo é governado pelo dinheiro e este compra tudo até a vida: claro que sim. Isto tem a haver com a mercantilização do trabalho, com a deificação do capital etc ... aliás traços atualmente muito mais evidentes em países emergentes e periféricos.

A ironia do filme é que seu argumento científico é o de que o núcleo da terra está sendo cozinhado por microondas emitidas por explosões solares, que faz com que se altere toda sua superfície e se desloque seus pólos magnéticos. Os pólos Sul e Norte, mudam de lugar – não deixa de ser uma teoria interessante.

Quantos aos atores, para quem valoriza sua presença, realmente dão alguma densidade e peso ao filme. Jonh Cusack, Danny Glover e a deliciosa Amanda Peet melhoram as coisas.

Por Antonio Henrique Garcia

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Os Vigaristas

Antes de assistir ao filme tinha lido um texto no jornal “ A Tarde ”, que o crítico concluía dizendo em relação à narrativa, que, apesar da parte final ter sido mais movimentada – ou algo que o valha – o filme havia sido comprometido pela direção arrastada no seu miolo – ou algo que o valha.

Isto já seria uma análise superficial até para o pior filme ... Entretanto, estamos falando de um grande filme – que provavelmente seria rotulado de cult até algum tempo atrás -, que de arrastado não tem nada, senão uma feliz e profícua alusão ao Ulisses de Joyce. Por isso, o miolo que o in-feliz crítico chama de arrastado é um texto prenhe de significações, com uma narração e ritmo que beiram quase à literatura, e a ambigüidade que permeia todas as evocações do narrador – que, como no livro, pode se discutir se é o niilismo da obra ou a característica existencial do personagem, esperança de um ou cinismo do outro – remete de forma imediata e latente à subversão como uma forma de reação aos dogmas e às convenções do senso comum.

Mas, mesmo essa seria uma das muitas leituras de Ulysses. As suas experiências com as palavras, criam novas possibilidades mundanas, algo próximo às imagens do surrealismo. E é aí o ponto de congruência entre livro e filme, o que o in-feliz crítico chama de arrastado é a profusão simbiótica de imagens e palavras que viajam no tempo – presente e passado.

Os nomes dos protagonistas, Stephen e Bloom, não deixa de ser mais uma alusão ao livro. Bem como a paisagem européia, descortinada por Joyce em seu périplo e no dos personagens, que transitam por lugares quase que por algum desígnio astral, mitológico do grande viajante. E enfrentam desafios da mesma ordem, que são a essência da civilização ocidental.

Enfim, não é um filme estrito. É muito mais. É navegar mediterraneamente por desvãos e cavernas imaginárias. E é isto que os personagens fazem magnificamente pelas mãos do diretor, que não me ocorre o nome.

Por Antonio Henrique Garcia