terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Good

"Good", Bom. Sugere a perplexidade de um ser humano diante de situações que beiram o absurdo e o grotesco. O triunfo do senso comum sobre a lucidez. Entretanto, um matiz muito delicado permeia o argumento dessa história tipicamente alemã. Tipicamente alemã no entre-guerras, mais precisamente.

Leni Riefenstahl, Heidegger ... foram intelectuais cooptados pelo nazismo. Como nosso bom homem, foram pegos pelo ego.

Indivíduos em uma sociedade que se baseava, em seu apogeu, na premissa Darwiniana que só aqueles mais bem dotados sobrevivem. Mais bem dotados nesse caso confunde-se com aparelhados, em uma sociedade essencialmente totalitária cuja propaganda massiva e insidiosa penetrava as mentes das pessoas comuns, deletava os princípios daquelas mais bem informadas e suprimia a existência de todos aqueles que se opunham.

Era-lhe simplesmente impossível continuar no limbo em que se encontrava, rodeado por uma mãe senil e possessiva e uma mulher fria. A vida lhe sorriu justamente no momento em que o nazismo ascendia, com sua juventude e virilidade. Uma nova mulher; nova posição na universidade; reconhecimento acadêmico - a metáfora, é que isto se deveu a autoria de um livro sobre eutanásia, censurado ... sua utilidade funesta certamenta era uma antevisão do genocídio de uma nação.

Um Homem Bom é sobretudo muito mais do que apenas um bom filme.

Por Antonio Henrique Garcia.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A Duquesa

“A Duquesa”, tradução literal que encerra toda a pompa, e mais do que isso o poder imanente de uma classe sobre todas as demais.

Filme primoroso, que discute expressiva e ao mesmo tempo subliminarmente a retórica como a linguagem do poder, sob a qual todos se curvam em uma nação que até os nossos dias consagra seus costumes e idolatra suas personalidades como personagens épicos, que operam no inconsciente coletivo um subjetivismo fabuloso que subverte a realidade. Quadro que se mantém desde a unificação da Bretanha, cujo maior símbolo é uma lenda – “ O Rei Artur e a Távola Redonda”.

A Duquesa de Devonshire seria uma espécie de protótipo de Lady Di. Popular entre os súditos, entretanto com muito mais brilho que a última. O texto além de tudo é muito bom, com diálogos transbordantes de significado que radiografam a Inglaterra da época, em que um tema destaca-se: a liberalidade como conceito político e matiz iluminista, como efeito libertador das paixões em geral e da libido, em particular. Assim é a cena em que a duquesa é acariciada pela cortesã – uma iniciação às possibilidades do prazer além de sua conotação libertina, como algo transcendente – sensação desconhecida até então para ela.

Como todos os filmes de época ingleses, calcados em uma sociedade sempre dominada pelo auto-controle, e reprimida, afloram diversos questionamentos sobre as instituições sociais e mesmo da vida privada, que invariavelmente são muito bem explorados por esse gênero que tornou uma escola do cinema inglês.

Keyra Knightlei e Ralph Fiennes, dão o tom correto aos personagens, quase sempre contidos e polidos. Movidos cada um a seu modo, por desejos latentes que se superpõem às suas posições – determinadas pela genealogia e o sexo de cada um deles.

Filme denso, com grandes planos de cena que realçam a suntuosidade da época em oposição às limitações intrínsecas de uma sociedade que vive sob o tutela da representação, algo entre a realidade e a fábula.

Por Antonio Henrique Garcia