Muitas são as novas perspectivas apontadas pelo filme. Primeiro, sua plataforma é uma cidade real, formada por pessoas normais – Nova York, Chicago etc. Segundo, fica muito clara a relação que o roteiro estabelece com o presente, pela onisciência que permeia toda a narrativa do filme sobre os acontecimentos ainda vivos do 11 de setembro.
Porém, existe um aspecto outro aspecto, que é o eixo da narrativa – a discussão sobre a instituição “herói americano”. Nesse sentido, o filme é muito rico e apela para caráter esquizóide de tal definição – Batman procura uma personalidade, Gotham City procura uma Cara, Harvey Dent é um carreirista falastrão ou um cidadão que se dispõe a se sacrificar pela sociedade. A população mostrada como uma massa manipulável pela mídia – o Coringa -, tudo isso forma um painel hiper-realista do momento americano.
Mas o filme tem o mérito de resolver essas questões de uma forma positiva, ao deixar espaço para a reflexão com diálogos pontuais interessantíssimos entre seus protagonistas. E, ao contrário do que se diz, a participação do Coringa não ofusca a de Batman, e sim a complementa, e os mostra ambos como os elementos que carregam as idéias do filme. A direção tem o grande mérito de conduzir o andamento do filme como uma sinfonia.
E, no fim, você tem de volta o pathos do herói - que é também o inimigo público, tão presente no imaginário do americano, como a entidade que confronta o Estado sem confrontar o Status-quo -, e o resgate dos tipos soturnos que habitavam os quadrinhos originais de Frank Miller, herdados de uma tradição que vem desde Hawthorne e Edgard Allan Poe.
Por Antonio Henrique Garcia