sexta-feira, 2 de setembro de 2011

SUSIE E OS BAKERS BOYS



Esse é daqueles filmes que ficam no inconsciente. Ficou no meu por mais de vinte  anos, vivo.

Michelle Pfeiffer, Jeff Bridges e Beau Bridges. Pela ordem no firmamento, de cima para baixo.

O que é que se faz com um excelente roteiro, sobre um argumento que se delonga sobre o limbo ... o limbo, no caso, daqueles que não alcançaram os afagos do mainstream, os holofotes do showbiss e o "sucesso".

O filme, essencialmente, versa sobre a visceralidade da vida que não se pode simplesmente reprimir encaixando-a dentro de limites convencionais, acompanhado por uma trilha musical que vai de Cole Porter a Morris Albert, com um suingue diferente, que lhe transporta a uma outra dimensão e fica esteticamente impressa na sua alma - sentidos, memória, inconsciente etc... ou seja qual for o termo que lhe quiserem atribuir.

Voltando ao roteiro, é uma obra de arte que extrapola as fronteiras de um roteiro de cinema ... composto por diálogos que deixariam até Sartre corado. Ao mesmo tempo, encontra-se o romance, mas não um simples romance. É difícil se construir um clima idílico em uma ambientação marginal de uma riqueza vital que mexe tanto com o coração quanto os intestinos ... isso é a vida !

Dois irmãos, que vivem uma simbiose: um sobrevive e tem uma perspectiva artística medíocre e um estilo de vida compatível com esta perspectiva; o outro, esconde-se atrás de uma atitude cínica e existencialista, que nega qualquer tipo de sentimento ou valor moral, e exercita esse vazio em jam sessions de jazz nas madrugadas de Seattle.

Uma mulher intensa e anticonvencional, com uma presença de palco invulgar e uma voz impregnada daquele acento mundano que transita livremente sobre temas diversos, enfim uma Marlene Dietricht em  " O Anjo Azul".

Uma trilha sonora maravilhosa de Dave Grusin, com direito a uma performance musical contida e irrepreensível de Michelle Pfeiffer, cantando "My Funny Valentine".

Sacuda isto tudo ... e você terá um filme autêntico, denso e com um profundo senso estético sobre música contemporânea americana e mais, sobre a existência humana, com seus altos e seus baixos, seus picos e suas depressões.


Por A.H.Garcia