quarta-feira, 10 de março de 2010

Entre Deus e o Pecado

Filme de 1960, dirigido por James Brooks, que assina o roteiro também, com Burt Lancaster e Jean Simmons, cujo argumento é um tema bem atual – o mercado da fé. O texto trata o assunto com algum realismo, atributo de um enredo bem sustentado por um roteiro muito bom, que discute o papel dos pregadores populares no crescimento da indústria da fé.

Esse debate ocorre em duas vertentes. Uma delas, o jornalista que chegou a ganhar um Pulitzer - uma das poucas referências temporais - e acompanha as caravanas, o qual tem uma visão cínica sobre o espetáculo que cerca as pregações e os artifícios utilizados em tais eventos. A outra, é a elite pastoral – os pregadores formados em universidades, de diversas igrejas, que repudiam os métodos utilizados por aqueles mais populares, a quem atribuem a corrupção do sacerdócio e questionam os seus resultados.

Entretanto, o forte apelo popular não resulta apenas dos métodos derivados do Goospel – ou sua adaptação à população branca suburbana, ressentida com a perda dos valores tradicionais da América, em franca expansão do seu modelo consumista.

O irônico é que a técnica empregada por esses novos mercadores da fé, assemelha-se às mesmas técnicas do consumo de massa, e a fé um produto vendável – ou um sub-produto cultural de uma população alienada. O ritual representado pelos cultos resulta na catarse coletiva daquelas pessoas torturadas entre a moralpuritana e a realização dos seus desejos - sublimados e escamoteados pela cultura do consumo.

A personagem da pregadora representa bem essa ambiguidade oscilando entre a viver uma vida plena - sexualmente - ou manter-se casta e protegida das desilusões do mundo, capitulando ao final quando opta por morrer no incêndio de seu templo. E seus elementos parecem convergir para um grande vácuo existencial.

Burt Lancaster é sem dúvida um dos maiores atores de sua geração, e sua atuação é fenomenal. Com esse filme ele veio a ganhar a Oscar de Melhor Ator Principal.

Não é um filme com uma grande produção. Não existem nuances destacáveis quanto a arte, cenários, fotografia. Mas, a grande contribuição que ele dá é mostrar a América suburbana e seu interior, de forma objetiva e com o requinte de ser uma ficção.

Por A.H.Garcia

segunda-feira, 1 de março de 2010

Zumbilândia

Zumbilândia. Terra de zumbis. Aqui no Brasil, a palavra zumbi tem tem uma alusão histórica libertária, revolucionária – entretanto, não vou me dar ao trabalho de procurar no dicionário. Creio que a palavra tem a mesma raiz etimológica em ambas as línguas, embora uma significação fundamentalmente diversa.

Não è à toa, que essa significação é explorada pelo filme. Zumbilândia, sem dúvida, para lá e além de sua estética “trash”, pretende ser uma crítica à sociedade de consumo americana, contudo de modo absolutamente americano. Tem um discurso antropofágico, entretanto sem propor nada ... recaindo sempre na doutrinação escatológica do fim dos tempos – compreendendo-se o tempo e o espaço dentro de seus limites.

O texto apesar de primário, tem momentos divertidos. O roteiro fragmentado é um traço proposital e comum ao estilo “trash”, que se calca muito mais em cenas impactantes do que em sequências convencionais, e suas imagens evocam risivelmente aspectos patéticos da cultura americana, zombando da sua visão ufanista e utilitária.

Por falar nisso, a atriz Emma Stone merece atenção, transitando em versões Pin-up e Ninfeta. Woody Harrelson, sempre compondo tipos toscos, elementos intestinos do puritanismo messiânico, que pululam no imaginário popular da América. O protagonista, e em vários momentos narrador da trama, é um tipo interessante – parece carregar todas as neuroses e fobias de uma sociedade em permanente tensão, alguém que transita entre a maioria e a minoria, criando normas de sobrevivência para si - um anti-herói misantropo.

Bill Murray faz uma pequena e inócua aparição, e Abigail Bresling continua sendo a adorável garotinha de "A Pequena Miss Sunshine".

É um filme, todavia, que tem um argumento radicalmente contemporâneo ... a supervalorização ao limite das coisas e objetos consumados e sua equiparação ou capacidade de substituição do ser humano.

Por A.H.Garcia