quarta-feira, 10 de novembro de 2010

The Runaways

Acho que as imagens dizem muito ... o filme é uma porrada seca ... crua ... revolve as vísceras até mesmo daqueles que participaram de todo aquele movimento, os que dele se beneficiaram - talvez, seus vanguardistas e ideólogos, que souberam mobilizar aqueles jovens anjos proletários desestruturados, ou a indústria que soube mais uma vez capitalizar a novidade, ou nós mesmos ...
que os consumimos como signo de rebeldia, após uma época em que o rock e a arte em geral eram uma forma de expressão bastante palatável, em que nada controverso ou explosivo acontecia.

As meninas do Runaways eram contemporâneas do Sex Pistols, Clash, Ramones, Stooges e tantas outras. Por trás de de seus gritos e sua verborragia tão desafiadora, da sua aparente subversão dos costumes e uma pretensa crítica ao sistema, eram uma espécie de Joana D'Arc ( ou Joana, A Dark ... como diria Marcelo Nova mais tarde ) se entregando ao sacrifício, ingenuamente, em um processo autodestrutivo.

Ora ... acontece que essa autodestruição foi como uma bomba kamicase que expôs os recalques de um segmento social que manifestava sua baixa autoestima ou a projetava de uma forma caótica, detonando instituições basilares do capitalismo. Essa jornada seria tão virulenta quanto transitória, pois para cada antídoto há um veneno ou vice e versa ... a indústria tratou de reciclar o movimento com se faz com qualquer sub-produto, através de um esquema de escala industrial que pulverizou os frageis egos daquelas meninas que de repente encontravam-se em cima de um púlpito com milhares de adolescentes histéricos como seguidores.

A letra de Geração Coca-Cola, de Renato Russo, traduz bem aquela época " Depois de vinte anos na escola, não é difícil aprender ... todas as manhas de um jogo sujo ... não é assim que tem ser ... vamos fazer nosso dever de casa ... e aí então vocês vão ver ... suas crianças derrubando reis ... fazer comédia no cinema com as suas leis ... ".

The Runaways mostra uma combinação de lirismo e revolta que é uma porrada ... e que não há geração espontânea ... pois é, Darwin estava certo.

Por A.H.Garcia