segunda-feira, 9 de março de 2015

DIVERGENTE

O pano de fundo de Divergente encerra uma discussão secular interessante, a série de classificações que a sociedade define como padrões específicos de comportamento, e os instrumentos de imposição de uma segmentação comportamental hierarquizada segundo uma noção de inclusão massiva, que delimita desvios servindo-se de critérios totalitários utilizados em diversas formas de controle social, que se baseiam notadamente no nível ou grau de enquadramento do indivíduo frente à sociedade e sua submissão à supervisão de uma rede de instituições que operam e regulam a ordem social.

É lógico e evidente, que há uma grande complexidade por trás dessa rede de relações e o buraco é muito, muito mais embaixo. O filme em si, é uma alegoria básica da realidade compressora do sistema - o sistema é bruto ... qualquer cidadão brasileiro hoje sabe disso. E professa isso!

Mas, não podemos deixar passar uma abordagem ontológica. A filosofia moderna, desde Espinosa a Nietszche, e contemporânea com Deleuze e Foucault, fazem críticas radicais à noção de identidade do ser subordinada a atributos hierarquizados e análogos, que reduzem o ser a uma fração infinitesimal da sua substância ou consciência, para afirmar a individualidade e a imanência do ser frente à identidade como conceito eminente. Para Deleuze, a identidade não é condição para a diferença, ela não é seu pressuposto lógico. A diferença é a essência constitutiva do ser.

Acho que o grande mérito do estória e da narrativa é tangenciar essas questões filosóficas - essenciais.

Por A.H.Garcia